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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A saga do Rock in Rio

O texto é imenso, mas vale a pena ler. Em uma visão bem humorada, o jornalista Thiago Soares mostrou a realidade da estrutura da qual dispomos e dos problemas que enfrentaremos, caso não haja investimento (com seriedade) para sediarmos a Copa e as Olimpíadas. Bom, não sei se é pra rir ou chorar...



Semana passada, fui para a abertura do Rock in Rio, aquele que é chamado o maior festival de música do mundo, tudo grande, imenso, distante. Fiz um “test drive” da loucura que é conseguir chegar à Cidade do Rock e relato aqui na coluna Agito.

Sim, “test drive”, porque se eu não sabia como chegaria no evento, também poucas pessoas tinham a “chave” deste segredo. Cheguei no Rio de Janeiro na sexta de manhã, tipo 10h. Já no desembarque no Aeroporto do Galeão, aquele caos: taxistas cobrando R$ 100 para uma corrida até o Flamengo (que custaria, no taxímetro, R$ 50) e o ônibus “Frescão” (é assim que os cariocas chamam o nosso “Geladinho” ou Opcional) com filas quilométricas.

Aliás, guarde essa palavrinha na sua cabeça: fila.

Mas, vamos em frente. Estou lá, mochila nas costas, na fila para pegar o “Frescão” quando um homem, afobado e gritando, pergunta, aos berros: “Quem vai para o Centro, Flamengo e Botafogo?”. Com medo daquela violência vocal, levanto meu dedo e digo um tímido “eu!”, quando o tal rapaz praticamente me empurra e solta, quase latindo: “Então entra nesse ônibus aí!”. O “ônibus aí” que ele estava me indicando para entrar estava en-tu-pi-do de gente. “Se não quiser ir nesse, vai esperar, no mínimo, mais uma hora!”, latiu ele de volta. Paguei os R$ 9,00 do “Frescão” e entrei. Obviamente que fui em pé, em meio a malas e sacolas de viajantes que chegavam ao Rio de Janeiro - sim, a cidade que vai receber uma Copa e uma Olimpíada nos próximos cinco anos. Como diz aquela hashtag do Twitter: #oremos.

A querida amiga que me hospedou deu a dica: pega o metrô no Flamengo, desce no ponto final em Ipanema e, de lá, faz a “integração” com o ônibus que vai te deixar no Terminal Alvorada - uma espécie de “ponto de integração” na Barra da Tijuca, de onde, de lá, partiam os circulares Rock in Rio, ônibus que nos deixariam a 1,8 km da Cidade do Rock. De lá até a entrada do evento, tudo a pé. Aliás, pelo jeito, seus pés serão muito importantes para se locomover nesta cidade que vai receber, em cinco anos, uma Copa e uma Olimpíada.

Peguei o metrô, tranqüilo, ufa!, mas quando cheguei em Ipanema, a figura onipresente neste festival me daria “olá”: ela, a fila. Uma imensa fila serpenteava a Praça General Osório, em Ipanema, para pegar o ônibus “Barra Expresso” rumo ao Terminal Alvorada. Sim, serpenteava.
Quando fui entrar no “Barra Expresso”, de novo, como naquela peça de Tennessee Williams, dependi da bondade de estranhos - cariocas. E um moço com a gentileza de uma jamanta me adverte: “se quiser ir neste ônibus até a Barra tem que ser em pé”. Meus pés urraram, mas eu não tinha tempo. Fui. Lá vou eu em pé de Ipanema até a Barra da Tijuca. Já no Leblon, bairro vizinho a Ipanema, engarrafamento. Ônibus parado. E eu em pé. Só me restava tuitar minha saga. Foi o que fiz...

Agora um longo parêntesis: sou eu, no ônibus parado, em pé, sem fazer nada. Ônibus lotado. E uma pessoa me diz: “não tem como ir ao Rock in Rio de carro, não tem estacionamento, só se pode chegar de ônibus ou de van”. E eu só pensava: este é o sistema viário que vai receber, em cinco anos, uma Copa e uma Olimpíada. Meu Deus, pode pedir para descer e voltar para casa?

Cheguei no Terminal Alvorada, na Barra, depois de mais duas horas. Equação de horários no trajeto Flamengo-Rock in Rio: saída do Flamengo às 16h, chegada no Terminal Alvorada (Barra da Tijuca) às 20h30. Ou seja: quatro horas e meia. E eu ainda tinha que ir até a Cidade do Rock.

No Terminal Alvorada, gente, cenas de um filme de terror. Na sexta-feira, dia de abertura do Rock in Rio, faltou luz por lá. Tudo escuro. Breu. Quando desci do ônibus, o terminal era iluminado somente pelos faróis dos coletivos e eu me senti numa cena de “A Lista de Schindler”, esperando que algum oficial nazista me levasse para a câmara de gás. Drama, ok. Mas a coisa estava feia.

Ouço berros de um homem “Rock in Rio por aqui!”. Sim, berros. Pensei: as pessoas que lidam com transporte não podem falar civilizadamente? Como homens que tangem bois, a multidão que descia dos ônibus no Terminal Alvorada era encaminhada para o Circular Rock in Rio como se estivesse numa manada. Sim, é essa gentileza que vai receber, em cinco anos, uma Copa e uma Olimpíada.

O motorista do Circular Rock in Rio fez, digamos, manobras bem rock’n roll no trajeto. Freios que equivaliam a um riff de guitarra, curvas que eram dramáticas que nem a batida de uma bateria e, na chegada, gritinhos de “ainda bem, chegamos!”. Descemos e fomos andando até lá.

No caminho, muitos cambistas. Os ingressos, que foram vendidos oficialmente por R$ 190, chegaram a ser comercializados por R$ 500.

Cheguei na Cidade do Rock às 21h40 e, para meu azar, mesmo com todo atraso, ainda peguei o show da Cláudia Leitte. Gente, aí é azar.


A Cidade do Rock é a materialização de um shopping center. Tem praça de alimentação, “praça de eventos”, área de lazer. Como num shopping, as pessoas vão para comprar coisas, se divertir. Mas e a música? No Rock in Rio, ela é um detalhe. Em alguns momentos, ela agrega. Em outros, a música é só “pano de fundo” para as pessoas fazerem fotos e postarem no Facebook e no Orkut - Facebook, né? Orkut é muito “pobrinho”...

Vou observar as coisas no Rock in Rio. A Cidade do Rock é uma “réplica” das ruas de New Orleans, o berço do jazz e do blues nos Estados Unidos. Mas, com uma estética de cidade cenográfica de enfeite de bolo de aniversário.

Guardou o termo “fila”, né? Sim, depois da minha saga para chegar ao Rock in Rio, bateu fome. E tinham vários quiosques da loja de fast food Bob’s. O problema seria descobrir em qual deles tinha a menor fila. Em suma: nenhum.

E ai que pena deu dela. Sem voz, sem clima, sem música que preenchesse aquela imensidão, a cantora de “Teenage Dream” parecia cantar em meio a um deserto. Mas a Katy Perry foi uma querida com os fãs. Na churrascaria Porcão, ela até posou para fotos ao lado de fãs (3).

Elton John fez aquele show incrível, mas o povo teen fãs da Katy Perry e da Rihanna não entende. E vaia. Culpa dessa “curadoria” gostosa do Rock in Rio que o coloca neste dia e não, por exemplo, na data de hoje, junto a Stevie Wonder.

Eu precisava comer. E daí desisti de hamburguer, pizza e coisas afins. Achei pouca fila - acredite - numa lojinha de frozen iogurte. Tomei um e peguei uma salada de fruta. Sem querer eu estava transformando a noite do Rock in Rio num verdadeiro spa.

Aí aquele atraso para começar o show da Rihanna. E sabe o motivo? Rihanna teve que ser atendida com dor de garganta. Pudera. Na noite anterior, ela se esbaldou, vestida com camiseta com motivos de maconha (2), na boate para lésbicas Le Girl, em Copacabana. E junto a Katy Perry.

No Rock in Rio, RiRi chegou de helicóptero, desceu de forma bem diva (4) e ainda esteve no táxi aéreo com batom mega-vermelho (5)! Amamos. O show dela foi incrível. Sem trocas de roupa, com pegada rock, sem grandes cenários ou estripulias visuais.

Na volta da Cidade do Rock, mais filas para pegar ônibus. Só vou dizer uma coisa: imagine cem mil pessoas saindo na mesma hora para pegar ônibus?

No dia seguinte, vou poupar vocês de contar a minha saga de novo. Não foi muito diferente. Cheguei na Cidade do Rock para ver um dos shows mais bacanas: Mike Patton, vocalista do Faith No More, no seu projeto Mondo Cane.

Entre vaias para o NX Zero, aplausos para a histeria do Capital Inicial e aquela coisa sem graça que foi o Snow Patrol, tudo se redimiu diante do Red Hot Chilli Peppers (1). Anthony Kieds sabe, como ninguém, controlar a multidão. Quando eles cantaram “Give it Away”, última música do show, meus pés pediam, inclementes, “vamos embora”. E era hora de chegar em casa e pegar o táxi de volta para o aeroporto do Galeão.

Essa é a cidade que vai receber, em cinco anos, uma Copa e uma Olimpíada. O Rock in Rio é a prova de que, gente, tem algo de muito errado no ar. Só nos resta: orar.

 Texto publicado na Coluna Agito em 29/09/11.





 Thiago Soares é jornalista e colunista da Folha de PE.




Oremos!!! Senhor, tende piedade de nós!!!

1 Devaneios:

Carlos Henrique disse...

Mano, ri muito kkkkkkk
Seria realmente cômico,mas a situação é de caos total.

abraços.

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