Não falamos sobre moda, cultura é o nosso foco, poesia nossa inspiração. Sair do lugar comum é como ver o mundo de cima de um salto 15...Vermelho!!!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sapato vermelho salto 15

Passeando na net, esbarrei nesse texto do Mário Jorge, no site Oficina de Textos em Cinema. Achei super da hora e gostaria de compartilhar com vocês. Atentem para o contexto e boa leitura!

Era noite de sábado, como de costume Sofia preparava-se para sair, como faz a cada noite, abre as portas do seu guarda-roupa escolhe as peças para o seu visual, põe a maquiagem e como num ritual calça seu sapato preferido.

Um sapato com salto agulha de 15 centímetros, vermelho com detalhes pretos e tiras em volta do tornozelo que se ajustavam perfeitamente a seus pés. Ao calçá-lo, a mulher sentia-se verdadeiramente poderosa e o sapato extremamente feliz. Durante as outras noites, ela sempre repetia suas sandálias, mais o sábado era dia do sapato vermelho.

Em casa ao ser colocado nos pés, o sapato adormeceu na esperança da noite passar rapidamente, sair aos sábados era algo extremamente cansativo. Enquanto Sofia se lançava em mais uma jornada noturna, o sapato sonhou que estava numa sapataria, em meio a tantos outros jogados pelos cantos, e ele chamava à atenção de todas as clientes que ali entravam. As mulheres queriam calçá-lo a todo custo, e o sapateiro exibia-o como um troféu numa prateleira de destaque.

O sapateiro astuto aproveitava-se para conquistar novos clientes, sorrateiramente passou a alugar o sapato às escondidas. Durante algumas horas, suas clientes passeavam pelas ruas e sentiam-se realizadas em cima daquele calçado. O sapato ficava indignado com esta situação, era como se estivesse traindo Sofia sua dona, além disso, algumas dessas mulheres caminhavam desajeitadas e sem segurança num salto tão alto, acabavam dando topadas e caminhando por superfícies nem sempre tão seguras, isso alterava de certo modo o seu aspecto e era sujeito a novos ajustes, marteladas e apertos após cada passeio, de modo que Sofia não percebesse.

Os dias da semana eram intermináveis, mulheres de todos os tipos iam até a sapataria para experimentar o famoso sapato vermelho salto 15, aquilo se transformara numa dolorosa rotina para o sapato. Com o passar dos dias, ele começava a apresentar alguns problemas e defeitos difíceis de serem escondidos.

Foi durante um programa, que Sofia observou que havia algo de estranho em seu sapato predileto, ela percebeu algo diferente toda vez que ele voltava da sapataria, ele não lhe conferia a mesma sensação e conforto de antes, além de que, seu sapato era como um amuleto, um cúmplice, e agora até seus clientes se tornaram cada vez mais raros.

A vontade do sapato vermelho era revelar absolutamente tudo que estava acontecendo, dizer que o sapateiro que Sofia tanto confiava a traía, que mulheres gordas e magras, que pés cavos, chatos e tortos estavam freqüentemente caminhando sobre seus sapatos preferidos.
Não foi necessária esta revelação. Sofia percebendo que algo estranho estava acontecendo na sapataria, levou o seu sapato ao sapateiro com a intenção de flagrá-lo cometendo alguma falha e descobrir o que estava acontecendo. No dia seguinte voltou, perguntou pelo sapato de estimação, e enquanto o sapateiro gaguejava procurando a resposta ,viu entrar pela porta uma mulher radiante com seus sapatos nos pés.

Era o fim de uma rotina angustiante, o sapateiro foi desmascarado e substituído e o sapato agora voltara a ser usado unicamente por Sofia.
O sapato vermelho dormiu durante toda a noite e ao chegar em casa foi colocado num canto da sala, depois de uma intensa jornada noturna de sábado, ao despertar comemorou. Felizmente era domingo, estava a salvo do sapateiro.

Mario Jorge

3 Devaneios:

o_solidário disse...

lindo texto, prima

Delirios de Poeta disse...

Boa noite, sempre que posso visito blog, e por um pequeno acaso encontrei o seu no blog de um amigo. Texto interessante esse do Mario Jorge. E como o sapato muitas vezes precisamos esperar que chegue domingo para nos livrarmos do sapateiro. AAbraços, bom te conhecer.

Elô Araújo disse...

Gracias, Primo!
Sabia q tu ia gostar...rs
Bjão
.......................................

Olá, Delírios!
Obrigada por comentar.
Realmente o Mário Jorge foi sagaz ao escrever. Concordo contigo qto a espera do domingo, no entanto, o trecho q mais me atraiu foi esse:

"Era o fim de uma rotina angustiante, o sapateiro foi desmascarado e substituído e o sapato agora voltará a ser usado unicamente por Sofia."

O que nos leva a concluir que, pode até demorar ou parecer impossível, mas um dia os sapateiros são desmascarados e o sapato volta a ser usado por quem é de direito. Fantástica essa colocação, né não?

Então, obrigada novamente por comentar e fique à vontade.

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