domingo, 5 de dezembro de 2010

Entre o ser e as coisas

Onda e amor, onde amor, ando indagando
ao largo vento e à rocha imperativa,
e a tudo me arremesso, nesse quando
amanhece frescor de coisa viva.

Às almas, não, as almas vão pairando,

e, esquecendo a lição que já se esquiva,
tornam amor humor, e vago e brando
o que é de natureza corrosiva.

N´água e na pedra amor deixa gravados

seus hieróglifos e mensagens, suas
verdades mais secretas e mais nuas.

E nem os elementos encantados

sabem do amor que os punge e que é, pungindo,
uma fogueira a arder no dia findo.


1951 - CLARO ENIGMA
Carlos Drummond de Andrade

Um comentário:

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