segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ontem ao Luar

Ontem, ao luar,nós dois em plena solidão
Tu me perguntaste o que era a dor de uma paixão.
Nada respondi, calmo assim fiquei
Mas, fitando o azul do azul do céu
A lua azul eu te mostrei
Mostrando-a ti, dos olhos meus correr senti
Uma nívea lágrima e, assim, te respondi
Fiquei a sorrir por ter o prazer
De ver a lágrima nos olhos a sofrer

A dor da paixão não tem explicação
Como definir o que eu só sei sentir
É mister sofrer para se saber
O que no peito o coração não quer dizer
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
De noite a chorar na onda toda azul
Pergunta, ao luar,do mar à canção
Qual o mistério que há na dor de uma paixão

Se tu desejas saber o que é o amor
E sentir o seu calor
O amaríssimo travor do seu dulçor
Sobe um monte á beira mar, ao luar
Ouve a onda sobre a areia a lacrimar
Ouve o silêncio a falar na solidão
De um calado coração
A penar, a derramar os prantos seus
Ouve o choro perenal
A dor silente, universal
E a dor maior, que é a dor de Deus

Se tu queres mais 
Saber a fonte dos meus ais 
Põe o ouvido aqui na rósea flor do coração 
Ouve a inquietação da merencória pulsação 
Busca saber qual a razão 
Porque ele vive assim tão triste a suspirar 
A palpitar em desesperação 
Na queima de amar um insensível coração 
Que a ninguém dirá no peito ingrato em que ele está 
Mas que ao sepulcro fatalmente o levará


Catullo da Paixão Cearense e Pedro Alcântara
Por Marisa Monte



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