Sou negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação
Solano Trindade
"Era poeta,
pintor, teatrólogo, ator e folclorista. Nasceu no dia 24 de julho de
1908, no bairro de São José, no Recife, capital de Pernambuco.
Era filho de Manuel Abílio, mestiço, sapateiro, e da quituteira
Merença (Emerenciana). Estudou até completar um ano de desenho
no Liceu de Artes e Ofício. A partir de então, começa
a escrever. De todos os escritores
negros, ligados à coletividade negra brasileira, foi o que deixou presença
mais forte. Foi o primeiro a escrever, com especificidade,
para negros, naquele tempo. Solano Trindade foi o
poeta da resistência negra por excelência."
Recife, 24 de julho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1974
Fonte: www.portalafro.com.br/
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