quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aos poetas de plantão 3


Minha trama de enganos teve início há sete anos, não foi difícil descobrirem o quanto estava ficando louco, afinal onde há fumaça, há fogo. Aquele fogo ardia e a fumaça me consumia, não conseguia mais parar, toda noite dizia: -“Hoje o bicho vai pegar.”Meu irmão tentou me convencer do contrário, “- Faça o que te digo não o que eu faço...”, mas aquele mundo ao qual ele já pertencia parecia meu santuário, acabei seguindo seus passos. Finalmente aquela vida-espelunca, antes tarde do que nunca, ganhou outro sentido; momentâneo, se bem o digo... Enquanto minha vida ia sendo ceifada, focinho de porco parecia tomada. 
 
Dizem que com o tempo tudo se cura, será que até aquilo de mais grotesco? Duvidava, “pimenta nos olhos dos outros é refresco", falava. "Todos dizem querer me ajudar, até quem não conheço, por que se metem no que não lhes diz respeito?” Como lobo em pele de cordeiro, das drogas ressurgia somente desespero e meu irmão foi o primeiro, afinal só uma porta a vida tem, enquanto a morte tem cem. Sinto-me o maior dos tolos e aprendi da pior forma que nem tudo que reluz é ouro. O mal está nos olhos de quem vê, mas aquele que não se arrepende, os mesmos olhos só vêem o que o coração não sente e hoje meu coração quer falar, não dizem que quem cala consente?


Se a ignorância é a mãe de todas as doenças, então hoje eu to são, não foi do dia para a noite toda essa transformação, a pressa é inimiga da perfeição. Se há luz no fim do túnel? Talvez! O fato é que minha vida é como um jogo de xadrez da qual perdi o posto de rei. Será mesmo que há males que vêm para o bem? A droga foi minha ladra, mas agora retomo minha vida de vez, no meu peito hoje mora uma esquadra que me permite enxergar as peças do jogo com nitidez. Se ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, no tabuleiro da vida não sou mais peão.

P.S. Pequeno texto inspirado em JPFS, paciente do CAPS AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), que foi capaz de reverter a imutabilidade do clichê trágico na poesia do recomeço.

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