quinta-feira, 2 de junho de 2011

Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

(Poema de Adélia Prado, que há 34 anos, num dia como hoje (02/06), lançava-se escritora com o livro de poemas Bagagem).


Nota: Não conhecia esse poema, recebi hoje de uma amiga que, não me perguntem o motivo, lembrou de mim. Mulher desdobrável, quem dera. Embora não tenha a pretensão de ser, o trecho "Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô", caramba é perfeito e, explicitamente, o tomo pra mim. A minha vontade de alegria, essa não tem fim. Como sempre digo e repito, alegria vem de dentro, independe do momento, da situação, de ter ou não problemas. A minha alegria jamais se perderá na estrada,  a minha alegria é eterna, a minha alma é leve. Obrigada, "doutora", simplesmente adorei. 

Diva L.

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