quinta-feira, 24 de março de 2011

Boca


Boca: nunca te beijarei.
Boca de outro que ris de mim,
no milímetro que nos separa,
cabem todos os abismos.

Boca: se meu desejo
é impotente para fechar-te,
bem sabes disto, zombas
de minha raiva inútil.

Boca amarga pois impossível,
doce boca (não provarei),
ris sem beijo para mim,
beijas outro com seriedade.

Carlos Drummond de Andrade  

Um comentário:

  1. Não conhecia este magnífico poema do autor.
    E eu a pensar que já tinha lido tudo dele...
    Obrigado pela partilha, querida amiga.
    Beijos.

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