Soneto Oco
Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.
De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.
Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.
Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.
Soneto da busca
Eu quase te busquei entre os bambus
para o encontro campestre de janeiro
porém, arisca que és, logo supus
que há muito já compunhas fevereiro.
para o encontro campestre de janeiro
porém, arisca que és, logo supus
que há muito já compunhas fevereiro.
Dispersei-me na curva como a luz
do sol que agora estanca-se no outeiro
e assim também, meu sonho se reduz
de encontro ao obstáculo primeiro.
do sol que agora estanca-se no outeiro
e assim também, meu sonho se reduz
de encontro ao obstáculo primeiro.
Avançada no tempo, te perdeste
sobre o verde capim, atrás do arbusto
que nasceu para esconder de mim teu busto.
sobre o verde capim, atrás do arbusto
que nasceu para esconder de mim teu busto.
Avançada no tempo, te esqueceste
como esqueço o caminho onde não vou
e a face que na rua não passou.
como esqueço o caminho onde não vou
e a face que na rua não passou.
Soneto ao recanto
Num recanto sem data e sem ternura,
E mais, sem pretensão a ser recanto,
Descobri em teu corpo o amargo canto
De que despenca para a desventura.
E mais, sem pretensão a ser recanto,
Descobri em teu corpo o amargo canto
De que despenca para a desventura.
Há nos recantos sempre uma segura
Desvantagem de unir o desencanto
E é por isso talvez que não me espanto
De ali perder teu corpo e a ventura.
Desvantagem de unir o desencanto
E é por isso talvez que não me espanto
De ali perder teu corpo e a ventura.
De viver entre atento e descuidado,
Mirando o pardo tédio que descansa
Nos subúrbios do amor desmantelado.
Mirando o pardo tédio que descansa
Nos subúrbios do amor desmantelado.
E só para ganhar mais espessura
Eu resolvi fazer esta lembrança
De um recanto sem data e sem ternura.
Eu resolvi fazer esta lembrança
De um recanto sem data e sem ternura.
Carlos Pena Filho
Hoje, 01 de julho completamos 50 anos sem o poeta recifense.
0 Devaneios:
Postar um comentário